sexta-feira, 30 de maio de 2008

MANIFESTO DO DCE ACERCA DO BAC

POSICIONAMENTO DO DCE ACERCA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
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No dia 24 de outubro de 2007 - após muito esforço para conhecermos e participarmos da discussão do projeto de reestruturação e expansão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - estivemos nesta sala pautando críticas construtivas ao projeto do Bacharelado em Ciência e Tecnologia e ao próprio projeto do REUNI; estivemos apresentando um manifesto maduro, que discriminava preocupações que, segundo os próprios professores presentes, eram compartilhadas por todos e todas.
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Segue abaixo um fragmento do documento apresentado pelo DCE ao CONSUNI:
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No que diz respeito à proposta de implantação do Bacharelado em Ciência e Tecnologia, questionamos o formato que está sendo proposto, questionamos, mais especificamente, o formato de ensino presencial proposto, pois consideramos um risco à qualidade do ensino a implementação de salas de aula (anfiteatros) com 125 (cento e vinte e cinco) alunos, mesmo levando em consideração a estrutura tecnológica do anfiteatro, o monitoramento previsto e a formação diferenciada dos docentes. Defendemos, considerando as dificuldades de qualificar o ensino dentro de uma sala de aula com 60 (sessenta) alunos, mesmo com acesso à monitoria e inovações tecnológicas, que a proposta do ensino presencial do BCT seja reestruturada, dividindo-se as turmas de 125 (alunos) em duas turmas.
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Porém, sabemos que nossa proposta de divisão das turmas dificilmente será aprovada no CONSUNI, pois conhecemos a estrutura representativa deste Conselho. Sendo assim, reivindicamos que a qualidade do Bacharelado em Ciência e Tecnologia seja garantida através da qualificação das equipes de ensino (docentes, assistentes, monitores, etc.), do estímulo à pesquisa e à extensão, do projeto político-pedagógico do BCT, bem como através da implementação de atividades complementares como semanas de ciências e tecnologia, congressos, encontros, através da mobilidade estudantil, dentre outras atividades essenciais à formação do estudante-cidadão.
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Ainda analisando a implementação do Bacharelado em Ciência e Tecnologia, percebemos que a diplomação dos estudantes após três anos desestimula o reingresso dos mesmos nos cursos de graduação cuja formação é mais específica e especializada. O bacharel generalista, como se propõe, seria uma formação intermediária, gerando conflitos não apenas no mercado de trabalho, mas também no interior da instituição, nas relações entre os próprios estudantes e entre os próprios professores. A proposta do BCT é interessante quando fornece aos discentes mais tempo para a escolha profissional, mas após o básico, quando o estudante já visualiza claramente seu futuro, ele deve reingressar e concluir sua formação superior. Entendemos não ser papel da Universidade promover uma formação intermediária, reivindicando, portanto, a definição do perfil do bacharel, a construção de um projeto político-pedagógico no qual a grade curricular seja fortalecida, evitando-se a formação de um mero generalista.
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Como é verificável, o texto explicita propostas que deveriam ser levadas em consideração no momento da construção do projeto político-pedagógico, já prevendo que propostas como a divisão das turmas seriam reprovadas no CONSUNI. O texto foi aprovado em decisão unânime do CONSUNI como complemento do projeto de implementação do REUNI na UFRN, conforme se pode verificar em seu próprio conteúdo:
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Logicamente, após diversas leituras e discussões, apresentamos algumas críticas que merecem ser registradas e, se este Conselho avaliá-las como sendo coerentes, deve aprovar nossa pauta de reivindicações como complemento do projeto de implementação do REUNI na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja bandeira levantamos com bastante orgulho.
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Ou seja, ao aprovar nosso documento como complemento do projeto de reestruturação e expansão da UFRN, o CONSUNI logicamente acatou as nossas explícitas reivindicações, como a questão da diplomação após o ciclo básico e consequentemente a formação de um mero generalista.
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Não somos contrários apenas por ser contrários, mas sim por entender que a diplomação após o ciclo básico desestimula a formação continuada e estimula a entrada precoce no mercado de trabalho. Não é papel da universidade promover formação intermediária, assim como não é papel da universidade formar um estudante que muito possivelmente vai usar seu diploma apenas para fazer um concurso público, afinal, o futuro profissional deste sequer vai exigir as disciplinas que compõem o ciclo básico.
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Afirma-se que nosso pensamento está vinculando a formação superior à profissionalização e consequentemente ao mercado, mas nossa análise é justamente oposta, pois revela que a diplomação após o ciclo básico cria uma formação intermediária, para atender exatamente às demandas do mercado, que necessita de mão de obra um pouco mais qualificada do quê aquela oriunda do ensino médio e um pouco menos qualificada do que aquela oriunda do ensino superior, para oferecer aos estudantes subempregos e gerar conflitos incomensuráveis no mercado de trabalho.
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Afirma-se ainda, no próprio projeto político-pedagógico do Bacharelado, que “será um curso superior de graduação com características não profissionalizantes”, mas ao mesmo tempo é dito que o curso pode representar “uma alternativa avançada de estudos superiores que permitirão reunir, em uma única modalidade de curso de graduação, um conjunto de características que vêm sendo requeridas pelo mundo do trabalho e pela sociedade contemporânea”. Como o curso não tem características profissionalizantes e ao mesmo tempo agrega características que vêm sendo exigidas pelo mundo do trabalho?
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Evoca-se, no PPP do Bacharelado, a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, do governo FHC, do ministro Paulo Renato, que foi amplamente criticada pelos professores em 1996, mas que agora é evocada para justificar retoricamente a suposta “desconexão entre a vida profissional e a formação universitária”. Foi essa mesma LDB que limitou a participação dos estudantes nas instâncias deliberativas das IFES, obrigando-nos em muitos lugares do país a reivindicar através de métodos radicais.
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Evoca-se também a Declaração de Bolonha, destacando que um dos objetivos dos países signatários era justamente promover a formação em dois ciclos. Embora não simpatizemos com a referência devido ao entendimento de que a realidade da Europa é bastante diferente da realidade latino-americana, percebemos que o projeto aqui construído entra em conflito com o supracitado objetivo ao estimular a formação através de um único ciclo (básico). O que não queremos que o CONSEPE aprove é justamente a formação em apenas um ciclo, um ciclo básico que cria outra categoria de estudante, que futuramente deverá ser um subempregado e entrar em conflito com aqueles que realmente concluíram o ensino superior.Sabemos que o BAC foi aprovado no CONSUNI, mas queremos disputar seu projeto político-pedagógico no CONSEPE, queremos garantir que o estudante ultrapasse o ciclo básico e tenha uma formação de fato superior, independente da estrutura que será necessária para que isso aconteça. Propomos que o CONSEPE aprove uma emenda ao projeto e anule a diplomação após o ciclo básico, respeitando assim nossa carta de reivindicações que foi aprovada no CONSUNI, sendo coerente com a proposta tão retoricamente defendida de formação continuada. Anular a diplomação após o ciclo básico é justamente garantir a continuidade da formação e por incrível que pareça impedir a profissionalização precoce. Não é uma proposta religiosa ou fundamentalista, mas sim baseada em argumentos coerentes, baseada em preocupações que compartilhamos.

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Prevendo que alguém deve dizer que não é possível se criar um curso e não diplomar o estudante, antecipamos nossa resposta e afirmamos taxativamente que realmente é impossível, mas é bastante possível modificar o PPP do Bacharelado e deixar claro que o diploma somente será concedido após a conclusão do que seria um segundo ciclo, que nós chamamos de formação superior.

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Diferentemente de oposições retóricas e fundamentalistas, estamos aqui para contribuir, para somar esforços na discussão de um novo modelo de curso que pode vir a ser implementado em outras áreas, que pode remodelar o ensino superior brasileiro, de forma que não poderíamos deixar de emitir nosso posicionamento, pois no futuro vamos retomar essa discussão e não teremos errado por omissão.

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Ao contrário do pensamento retrógrado que ainda permeia algumas mentes, nós somos capazes de formular contrapropostas e de construir um manifesto coerente e propositivo, que pode ou não ser aprovado aqui.

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Gestão Somos quem Podemos Ser... Sonhos que Podemos Ter!

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Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só.
Sonho que se sonha junto é realidade
” (Raul Seixas)

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